Lisboa é atualmente a cidade da União Europeia onde se destina a maior percentagem do salário para pagar habitação. De acordo com um relatório apresentado pelo Conselho Europeu, as famílias que vivem na capital portuguesa gastam, em média, 116% do rendimento mensal com custos habitacionais — um valor que supera o rendimento disponível, refletindo o desequilíbrio entre salários e preços no mercado imobiliário. A análise, elaborada com base em dados do Deutsche Bank, compara o custo de apartamentos em zonas centrais com o salário médio local. Barcelona e Madrid surgem logo abaixo, com cerca de 74%. Por outro lado, cidades como Viena (37%), Luxemburgo e Frankfurt (34%) ou Helsínquia (35%) apresentam rácios significativamente inferiores.

O relatório, intitulado “Um teto, muitas realidades: a complexa crise da habitação na Europa”, aponta este fenómeno como um problema estrutural que se estende por vários países da UE. Segundo o Eurostat, entre 2015 e o primeiro trimestre de 2025, o preço das casas aumentou em média 58% no espaço europeu, com a Hungria a liderar a subida (237%), seguida por Portugal e Lituânia (147%). Face ao impacto crescente no quotidiano dos cidadãos, o Conselho Europeu irá discutir pela primeira vez o tema da habitação em reunião formal, procurando definir estratégias que permitam responder aos desafios de acessibilidade. Embora a habitação seja uma área de competência nacional, o Presidente do Conselho Europeu, António Costa, sublinha que uma abordagem coordenada poderá criar mais instrumentos e apoio financeiro para que cada país consiga adaptar soluções à sua realidade. A preocupação passa também por evitar consequências como a perda de confiança nas instituições democráticas e eventuais efeitos negativos na competitividade das economias europeias.